Selic alta influencia o mercado imobiliário? Especialistas explicam
Taxa atingiu 13,75% ao ano, o que acarreta em alta nos juros bancários, responsáveis pelo encarecimento das prestações do financiamento imobiliário e pela perda do poder de compra
A Selic sempre está em discussão, mas muitas pessoas não têm a dimensão de quanto essa taxa impacta a vida como um todo. É a sigla de Sistema Especial de Liquidação e de Custódia e pode ser entendida como a taxa básica de juros da economia, responsável por nortear todas as correções monetárias no país. Ela serve também de base para os juros bancários, que estão presentes em empréstimos, aplicações financeiras e nos financiamentos imobiliários. Especialistas explicam por que essa alíquota tem efeito em cadeia e como ela vai influenciar no poder de compra de imóveis nos próximos meses.
A taxa é atualizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), formado por executivos do Banco Central (BC), que decidem, a cada 45 dias, se a Selic será elevada, reduzida ou mantida nos padrões vigentes. O grupo anunciou, na última quarta-feira (22), que em março e abril, a taxa Selic ficará no patamar de 13,75% ao ano. Essa foi a quinta vez consecutiva — a segunda desde que Lula tomou posse — que os juros foram mantidos no atual patamar, o maior desde 2016.
“A Selic, portanto, é uma espécie de sinalizador para o mercado aumentar as taxas e desacelerar o consumo das pessoas, o que afeta toda a cadeia econômica brasileira. A decisão dessa comissão tem como objetivo coibir qualquer efeito inflacionário na demanda dos produtos e serviços, como forma de política monetária”, explica o economista Ricardo Paixão.
Dessa forma, a taxa é o principal instrumento que o BC tem para controlar a alta dos preços no mercado. A alteração, portanto, depende da previsão inflacionária, e, quanto mais alta for a estimativa da inflação, mais provável será a elevação da taxa básica. A taxa teve 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com elevação de 11,75 pontos percentuais, após atingir seu piso histórico de 2%, em agosto de 2020.
Como a Selic afeta os financiamentos imobiliários?
De acordo com os especialistas consultados por Hub Imobi, o patamar elevado da Selic influencia em todos os serviços financeiros prestados pelos bancos, como é o caso do financiamento imobiliário. Isso porque, os empréstimos sofrem acréscimo de juros enquanto o índice está em alta, atrapalhando a facilidade de adquirir a casa própria.
Atualmente, os juros de financiamento imobiliário variam de 7,99% a 10,49% ao ano.
Para o economista, o primeiro efeito da Selic em alta é o desestímulo nos investimentos: “Os títulos de renda fixa tendem a ficar mais atrativos, porque, enquanto o mercado de imóveis é mais arriscado nesse cenário de taxas altas, eventualmente, isso pode ocasionar uma saída de fluxos de capitais do setor”, aponta Ricardo. Quem opta por aplicar o dinheiro em renda fixa, pode esperar retornos maiores do que o mercado imobiliário.
Para quem procura imóveis para moradia, a desmotivação também influencia a decisão. Quando os juros estão em baixa, muitos brasileiros aproveitam para comprar e financiar imóveis, por conta do menor custo de crédito cobrado pelos bancos. Já quando esse efeito é contrário, o crédito fica mais caro, o que freia o mercado imobiliário residencial.
O empresário, consultor de mercado imobiliário e colunista do Hub Imobi Juarez Gustavo Soares analisa que a Selic pode afetar, basicamente, nas seguintes três principais instâncias desse mercado:
Produção
Com o crédito mais caro, os empreendimentos imobiliários encarecem, e as empresas construtoras e incorporadoras devem estudar melhor se o mercado vai absorver a oferta. Outro fator de risco é que essas empresas ficam mais vulneráveis à queda das ações na bolsa de valores.
Comprador
O pré-requisito para aprovação de crédito imobiliário é que a prestação não comprometa, em média, 1/3 da renda. Com a alta na Selic, os juros afetam o poder de compra das pessoas, porque o salário médio dos brasileiros não sofreu o reajuste proporcional. Para escapar desses altos custos, o melhor a se fazer é ver se o imóvel que cabe no seu orçamento lhe atende. Caso a resposta seja negativa, o recomendado é postergar essa compra.
Investidor
Na hora de comparar com a aplicação de renda fixa no banco, os riscos de investir em imóveis com o patamar da Selic mais alto são maiores. Isso pode atrasar a decisão do investimento, o que, por sua vez, influencia na decisão de produção das construtoras. E o ciclo recomeça.
E agora?
Em nota, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) afirmou que Banco Central precisa reduzir a taxa Selic, pois os juros altos são “entraves ao desenvolvimento econômico do Brasil e podem prejudicar a geração futura de emprego”.
“Mesmo nos atuais patamares da Selic, a Abrainc destaca que a principal fonte de financiamento para compradores de imóveis de baixa renda é o FGTS, que não é influenciado pela Selic. Dessa forma, com a implantação do novo Minha Casa, Minha Vida, temos boas perspectivas de aumento de produção para esse segmento”, informou a entidade.
A associação ressaltou, ainda, que os financiamentos habitacionais de médio e alto padrão são os mais impactados com a Selic. A taxa de financiamento habitacional do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) segue em valores inferiores ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI). No entanto, o setor considera que seria relevante que o BC já adotasse medidas que aumentem a oferta de funding ao setor. Ou seja, que adotem medidas de captação de recursos para investimento.
Para o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), Eduardo Fontes, a Selic certamente impacta negativamente no mercado imobiliário, por tratar de investimentos a médio e longo prazo. Por outro lado, o cenário só não afeta mais ainda o ramo imobiliário por conta da alta competitividade dos juros bancários. “Atualmente, bancos como o Banestes e a Caixa são alternativas para investir e financiar imóveis”, cita.
Já Ricardo Paixão avalia que a tendência nos próximos meses é que a Selic diminua. No entanto, ele observa que a taxa de juros não tem motivos para uma alta tão acentuada, e que o BC precisa reavaliar essa política monetária.
“Atualmente, em torno das 70% das famílias estão com dívidas que comprometem a renda mensal, mas a inflação que existe é de custo operacional de produção, e isso faz com que os preços finais dos produtos e dos serviços fiquem elevados. Mantendo a Selic alta, é apenas um obstáculo para o crescimento econômico”, pondera.
Juarez acredita que o patamar da Selic em 13,75% afeta não apenas o mercado imobiliário, assim como a economia como um todo. “O cenário de juros, a longo prazo, pode ser insustentável, e toda a cadeia de produção pode sofrer danos ao longo dos meses da taxa alta”, adverte.
Por outro lado, a redução da taxa não tem tanto a ver com o setor econômico. O consultor imobiliário analisa, ainda, que é preciso esperar, visto que a Selic é um fator eminentemente político: “O BC tem dado sinais de que precisa ter um cenário fiscal mais equilibrado para reduzir esse ciclo. Esperamos que o governo resolva rapidamente por meio da nova âncora fiscal”, pontua.
Fonte: A Gazeta.
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